23.3.06

Era uma vez...(Reprise)

Era uma vez uma rapariga que vivia. Ponto final. Sabia pouco da vida, por isso, a vida só passava por ela. Um dia resolveu mudar de vida. E a vida dela mudou-se para junto da vida de um rapaz. O rapaz, por seu turno, esse, vivia, mas uma vida escolhida. Por ele. Ele sabia o que queria. E queria-a a ela. Tanto, que não a deixava viver. A rapariga pensava que decidia, que agia. Que vivia. Mas não. A vida continuava a passar por ela, como se de um raio X se tratasse. Até um dia. Até ao dia em que a rapariga se sentou, olhou o mar e pensou “quem sou eu?” …a resposta não vinha, nunca mais vinha. Outro dia passou e a rapariga perguntava ao mar a mesma coisa. E mais dias passaram, mas o mar não respondia. E ela, a rapariga perguntava-lhe cada vez mais coisas. Para além de lhe perguntar quem era, perguntava-lhe para onde ia aquela coisa que era a vida, aquela sua vida que não era sua. Aquilo que não era vida. Um dia, a resposta veio. Não veio do mar. Veio do coração. Da rapariga. E foi espantosa. Disse-lhe o seu coração que “aquilo” não era a vida; pelo menos a sua. E o caminho para a sua vida era outro. E a rapariga soube qual era o caminho a seguir. Mas o rapaz não queria. Porque de tanto a querer, não queria mais nada. E não a queria soltar, deixar viver a vida que finalmente seria a dela. Que não! Inexplicavelmente, a rapariga que até então só vivia, decidiu viver a vida como sua. E disse-lhe “Não quero mais.” E por vontade dela, seria quanto bastava para ir buscar uma vida, sua, noutro lado. Noutro mar. Mas ele recusava-se! Bateu-se como um louco! Furioso, lançou mão de tudo quanto podia. Fez coisas feias. Quis arruinar-lhe a vida. Por pouco ia conseguindo. Mas o mar, um outro mar, num outro lado da vida da rapariga, que ela nunca tinha visto, não conhecia a cor nem o cheiro àquela maresia, esse outro oceano mandou-lhe ondas e ventos que ajudaram a rapariga a navegar para fora da vida que não era nem vida, nem sua. Que não era nada. A rapariga vive, agora, uma outra vida. É difícil, às vezes dói, mas é sua! E está viva. ----- Para um Mar que trago no meu coração.