23.2.06

Brigar com o vento

Às vezes pergunto-me a mim mesma que raio de guerra é esta onde entrei. E se merece a pena. E porque raio haveria eu de ter este feitio, que nunca me permitiu aceitar as coisas só porque sim. Estas considerações lembraram-me o meu pai. É um homem que sempre aceitou os reveses da vida com uma resignação peregrina. Os dias seguiam-se uns iguais aos outros, numa rotina já sem cor, de casa para o trabalho e vice-versa. Todos os dias. Nunca me lembro de o ver faltar ao emprego. E no dia que soube estar já aposentado acabou o horário até ao fim. Depois de estar em casa, após uns tempos de inactividade, poucos, vi-o levantar-se e começar a fazer coisas com que sempre sonhara. Projectos que só então soube existirem. E, do alto dos seus sessenta e muitos, vi surgir, com entusiasmo, um homem renovado. Com vontade de fazer coisas novas, aberto ao conhecimento. E pensei nele porque acho que ele ganhou a guerra, à sua maneira. E quando revejo todo o meu percurso de vida, apercebo-me das minhas fraquezas e vejo-me numa batalha permanente, brigando com o vento numa batalha perdida à nascença. E hoje senti-me patética, fraca. Não gosto de mim hoje…

13.2.06

O meu castigo

Hoje o mundo acabou. Uma parte do meu mundo terminou. A terra abriu-se e engoliu-me viva. Foi o meu castigo. O meu castigo.

3.2.06

Pormenores

Deixámos de trabalhar em conjunto, porque os projectos que abraçámos levaram-nos por rumos diferentes. As vidas mudaram – vieram casamentos, filhos, divórcios, enfim, a vida seguiu o seu curso. Mas, ao longo destes anos todos, entrecortados por períodos mais ou menos espaçados, de forma mais ou menos regular, lá fomos conseguindo manter uma amizade, que dura há mais de dez anos. É daquelas amizades que não se baseiam em telefonemas diários, em visitas e saídas com muita assiduidade, mas, de cada vez que alguma de nós tem um problema, a “sirene” toca e lá vai o resto da tribo em seu socorro! Ombros nunca faltam! Desta tertúlia feminina gosto particularmente da capacidade que temos para nos rir de nós mesmas. E de coisas ou situações caricatas, mas que, apesar de já terem acontecido há tanto tempo, ainda nos dispertam o riso, com tanta alegria como se tivessem acabado de acontecer! E até a questão do passar dos anos é, para nós, motivo de risos e brincadeiras. Cada reunião, normalmente num jantar, é sempre um acontecimento marcante. Existe sempre algo em cada um desses momentos que o torna único - seja o reboliço para acertar agendas, seja porque uma não sabe onde é que fica o restaurante, seja porque ... enfim, a nossa capacidade de criar situações de absoluta loucura parece não ter fim! A de ontem não foi excepção! Nenhuma delas sabe que tenho este espaço, mas ainda assim, quero celebrar esta amizade! É que, para mim, a felicidade passa, decididamente, por “pormenores” destes!