26.2.08

... sei lá eu...

O curso, a acabar. Os miúdos, estáveis e com desempenhos razoáveis na escola, atendendo aos ritmos - os da vida e os deles. No amor, mais arrufo, menos amuo, está tudo bem. Creio que tenho aquilo que sempre quis. Pronto... coisas prosaicas como o dinheiro, lá está... já não é falta... é o meu estado natural... queira deus que seja circunstancial, conjuntural, não estrutural... Mas, no resto, parece estar tudo sobre rodas. Mas então, porque sinto eu um vazio aqui dentro? Algo falta aqui. A resposta veio-me hoje, durante a noite. Sonhei com a Sandra. A Sandra era uma amiga minha, colega de colégio, com quem mantinha uma amizade muito grande. A Sandra falava como eu, pensava como eu e tinha o mesmo código de valores que eu (na altura, éramos incapazes de qualificar as coisas desta forma, mas era assim que as coisas funcionavam). Amigas inseparáveis. Brincadeiras em conjunto no recreio, sempre. À hora de almoço, comíamos sempre juntas - mais rapazes e raparigas, mas sempre nós duas. Na carrinha, de manhã ela já lá estava quando eu chegava, a guardar-me lugar ao pé de si, e à tarde saía sempre depois de mim, pois morava umas ruas mais abaixo. De tão parecidas que éramos, o que sucedeu era, digo-o eu agora já com a "maturidade" dos meus 38 anitos, previsível. Aborrecemo-nos numa tarde, a caminho de casa, na carrinha, a propósito já nem sei de quê. Mas tal era o orgulho de cada uma de nós, que voltámos costas, cada uma à espera que a outra se retractasse e pedisse tréguas e desculpas. Nunca aconteceu. Infelizmente. Com 13 anos temos uma perspectiva muito "curta" de como são as coisas. É normal, somos imaturos, pequenos patetas que pensam saber tudo e tudo dominar. É normal. É o armário. Mas é uma pena. Tenho até uma certa tristeza, pois acho que seria uma daquelas amigas para a vida. Bem precioso, sei-o hoje. Mas na imaturidade dos meus 13 anos, com a noção da vida que se tem nessa idade, em que o "futuro" é um conceito ainda mais longínquo que a Patagónia, quem se preocupa com uma "baixa" no rol dos amigos? Como era dois anos mais velha que ela, quando a valência do colégio se esgotou para mim, de lá saí e ingressei na escola secundária pública. Não "doeu"... o nível de ensino era superior ao do colégio particular de onde saíra e lá estavam colegas meus e amigos, de forma que a ausência da Sandra se esbateu, até que saíu por completo da minha cabeça. Volta não vira, quando se fala em amigos de infância, penso nela. Basicamente, portanto, nunca mais me lembrei dela. Até esta noite. Esta noite a Sandra veio visitar-me de novo, qual fantasma dos natais passados. Acordei agoniada com tão grande regressão. E, palavra de honra, que passei boa parte da manhã, entre os afazeres em casa, absorta nos pensamentos, a tentar descortinar que raio de coisa, tão à Charles Dickens, teria sido esta. E, de repente, fez-se luz... sei que lição aprendi com a Sandra. Aqui chegados, volto à insatisfação que sinto. Sei agora o que é. Não importa quem tinha razão, eu ou a Sandra. Perdêmo-la toda ao sermos intransigentes, orgulhosas. Gostava de não voltar a cometer o mesmo erro duas vezes. Não há muito tempo, tive - não sei se tenho ainda - uma amiga. Exuberante, no ser e no estar. Tem contradições e opiniões muito vincadas e faz coisas que talvez não sejam inteiramente do meu acordo. Como é humana, é como cada um de nós e erra. Tal como eu erro, como toda a gente erra. Feriu-me com coisas que disse, com opiniões que escreveu e subscreveu e com actos que realizou. Muito. Algumas coisas doeram como tudo. Mas o incrível é que, apesar de, relativamente a muitas delas, me sentir ainda magoada, a verdade é que sinto saudades dela. Dela, das coisas que fazíamos, todas, do que me fazia sentir, isso de ter um "núcleo duro" de mulheres, que foi uma coisa que conquistei com a minha separação. E agora, sinto falta de sermos 3 outra vez. Sinto falta das combinações em cima da hora mas que resultavam bem. Talvez um dia destes eu seja capaz de me voltar para trás e ver se ela anda por aí...

5 comentários:

José Pedro Viegas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
José Pedro Viegas disse...

Acontece-nos a todos.
Mudei de cidade já crescidinho, ingressamos na faculdade, mudamos os ritmos, os namoros trocam-nos os rumos, os fusos e a cabeça.
Mais tarde, anos mais tarde, numa conversa ou numa passagem fugaz pelo espelho deparamos com as rugas e as saudades...
Esses tempos, os amigos, as saudades. O aperto, a pele de galinha e a noção de que provavelmente foi apenas "um tempo".
Gosto de te ler.

stela disse...

pois é!
talvez a Sandra não seja a melhor comparação... com a idade a gravidade das coisas que se dizem e fazem, também é diferente...
o orgulho? esse mata! a razão? não sei...
Faço parte das 3 e eu estou cá sempre, ainda que faças ou digas... sabes como sou, grito contigo, "ralho", mas estou cá! de pedra e cal! ;-)

beijos muito grandes minha grande amiga! :-)

stela disse...

p.s. esqueci-me de dizer... tu também és uma "ralhona"! ;-)

Anónimo disse...

Talvez 'um dia' seja tarde. E porque não amanhã ou depois?

Gostei de te ler*