15.5.06
Dezoito
Dezoito. Dia 13 de Maio farias 18 anos, se cá estivesses. Por isso, parabéns, minha querida. Onde quer que estejas, que sejas feliz.
Por cá, não foi dia de festa, nem as nossas almas, apesar de juntas, cantaram. Choraram, por ti…porque não tiveste muitos anos de vida…
Agonia-me a cor, o cheiro e as pessoas da Igreja onde agora vou tantas vezes.
Revolta-me, dá-me voltas às vísceras ter de estar ali…e exaspero-me comigo mesma por ter esta atitude de pretender saber que estás bem, mas depois pergunto-me a mim mesma (e no sábado, nem te passa pela cabeça as vezes que me perguntava, ao mesmo tempo que me recriminava por isso) “…estúpida, como podes saber com tanta certeza que ela está bem?...” …o que eu queria era estar agora a falar contigo sobre a carta de condução, os namorados que terias, falar de tudo e de nada, rir das coisas mais parvas, dar largas à cumplicidade que havia entre nós…
E tenho medo…já não me lembro do teu cheiro…e tenho medo de perder a lembrança dos contornos do teu rosto, das tuas mãos esguias e elegantes, da tua silhueta fina e esguia de mulher quase feita…
Foi, talvez, o mais insuportável dos dias, o de sábado…ver a Avó, perdida num mar de dor, uma dor de pedra…vê-la a perder o registo e a trazer à memória os dias do teu nascimento...ver que não era capaz de se calar com isso...o pior foi eu ter perdido a capacidade de a apoiar…deixei a raiva que tenho sair e saiu contra ela…
Odeio-me por isso.
E a tua Mãe…que pena tenho eu da tua Mãe, que não merecia ter de morrer com saudades de ti! Dói-me tanto que ela passe por isto… Tem uma ferida cuja magnitude nem desconfio…e não posso fazer nada por ela… e o teu Pai…o teu Pai…sabe bem esconder a sua dor…contido…
E a tua irmã…ainda nem consegue aproximar-se da Igreja, quanto mais da tua campa…
Custou-me ter de falar com aquelas pessoas que vinham dar um beijo à tua Mãe, inconsolável, revoltada, que tinha, ainda assim, que esboçar um sorriso. Explicar-lhes que sim, sou a Tia, irmã da Mãe…suportar o olhar misericordioso de quem nem sequer sei o nome!...
Doeu, minha querida, doeu que se fartou…
Por isso, hoje não consigo ter um discurso razoável…
Merda, tenho saudades tuas, odeio a doença que te levou, mais os médicos, hospitais, amigos comovidos e lágrimas quentes, porque me lembram sempre que nunca mais te vou ouvir a chamar por mim…
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13 comentários:
Deixo um beijinho e um abraco.
Dói...muito.E a raiva junta-se tantas vezes a essa dor;e cresce a impotência...de não puder parar o sofrimento dos outros.
Um beijinho enorme cheio daquilo que tu queiras...que precises!Podes contar comigo!
Também conheço essa dor... Beijo.
Não sei o tamanho da dor... deixo-te só mais um beijinho daqueles grandes, a ti e ao resto da família...
Deixo apenas as minhas condolências...bjnhos
Um beijo do tamanho do mundo...
Um xi do tamanho do planeta...
Um mimo do tamanho do universo...
Não conheço a tua Dor.
Comovi-me muito a ler as tuas palavras.
Ainda bem que acreditas que a tua sobrinha está bem. Eu também acredito.
Pudesse eu ter dois braços enormes para te abraçar e fazer com que todas as nossas mágoas se esfumassem...
Um beijo grande...
Infelizmente tb conheço ESSA raiva, essa dor que não cala.
1 beijo
Misty,
Fiquei sem palavras ao ler este teu texto, por isso deixo-te apenas o silêncio, que é o melhor que se tem a fazer quando se sente dor.
Bjs.
Há dias em que era bom não ter memória, ou como se diz hoje em linguagem judicial, ter memória selectiva.
Um beijo ...contigo sempre.
O que eu sinto em relação a essas situações, raiva, revolta, sentimentos que nos ultrapassam e são maiores que nós próprios.
Restam-nos as saudades, as lembranças e a esperança de um dia voltarmos a reencontrar-nos.
Muita força, porque sempre que chegam as datas marcantes vamo-nos a baixo e revivemos tudo outra vez. É uma estupidez que não conseguimos encontrar explicação para ela.
Beijinho muito grande e obrigada pela tua visita
Querida Misty:
Dói!
E ainda bem que dói. Sinal de que ainda temos sensibilidade. Mas há que racionalizar a dor. Não sei em concreto qual a doença que vitimou a menina, mas fosse qual fosse, a não haver negligência, seria, talvez, sempre assim. De que servirá a revolta? E contra quem nos vamos revoltar?
...
Ela estará bem.
Mas tu também precisas estar!
Quanto à mãe... bom... essa precisa de todos para tentar estar.
Força e um grande beijo.
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